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A presença de Néstor García Canclini nos estudos de cultura no mundo e, em especial, na América Latina tem sido sempre inspiradora. Suas intervenções, palestras, artigos e livros têm a capacidade de traduzir os movimentos e desafios político-culturais da contemporaneidade em sintonia fina. Seu pensamento em constante movimento expressa muita vivacidade e uma sensibilidade ímpar de perceber e tratar temas cruciais ao mundo cultural contemporâneo, com aguçado sentido crítico. Suas contribuições nas mais diversas áreas culturais são notáveis, como também o impacto internacional de sua obra. Destaco, dentre muitas dimensões possíveis, seu envolvimento com o tema das políticas culturais, cujos estudos devem muito à participação inaugural e ativa do querido mestre argentino-mexicano. Seu conceito de políticas culturais guarda impressionante persistência e contemporaneidade, revisitado por suas naturais atualizações. O acompanhamento crítico das dinâmicas político-culturais contemporâneas não pode prescindir do diálogo vigoroso com Néstor García Canclini.
Albino Rubim
Universidade Federal da Bahia
Néstor García Canclini - com suas pesquisas, análises, publicações, aulas, conferências, palestras, orientações - reúne um enorme legado de grande referência pra todos nós. Com seu olhar ampliado, interdisciplinar, por meio da Comunicação, Estudos Culturais, Sociologia, Antropologia, e uma escuta sensível em seu trabalho de campo, nos provoca a trafegar por nossas culturas híbridas, atravessando fronteiras, em busca de perceber o entorno do mundo como lugar estranho e, na condição de latino-americanos, acender uma luz à procura de um lugar neste século. Para além do grande cientista social, Néstor é um cidadão-gente-pessoa-mestre, com quem tenho muito orgulho e gratidão por ter cruzado no meu caminho, iluminando com sua conferência de abertura o Ciclo Ato Criador (O Precário - Condição predominante na criação & Ciclo Ato Criador) , e pelo profundo aprendizado adquirido com sua vida e obra. Salve Néstor García Canclini!! Salve Néstor!!
Compreender a dimensão cultural da política foi um dos desafios mais importantes que se colocaram às ciências sociais e às humanidades nos últimos quarenta anos, em especial nos anos 80. Encontrei-me pela primeira vez com as ideias de Garcia Canclini em 1981, quando Las Culturas Populares en el Capitalismo, recém premiado em Cuba pela Casa das Américas, abria novos horizontes à reflexão e ação de intelectuais Nuyoricans, African American, assim como daqueles, cujas identidades vieram a ser encapsuladas na categoria Latinos. O conhecimento crítico e internacionalista das artes, cultura e política vem sendo, desde então, decisivamente estimulado e alimentado pelo talento deste companheiro argentino-mexicano. Cerca de dez anos depois, Culturas Hibridas viria uma vez mais fortalecer a luta pela construção da democracia, desta vez no contexto da pós-modernidade em espaços interamericanos, nos sentidos geográfico e simbólico da palavra. Foi nesse front que nos tornamos parceiros e Canclini tornou-se uma das principais referências de minha trajetória intelectual.
Antônio Augusto Arantes
Universidade Estadual de Campinas
Afável, dotado de humor e sentido de compromisso e amizade, Néstor García Canclini é uma pessoa dedicada aos seus estudos. Mas também é um homem que experimenta a carne do mundo. Seu olhar aguçado registra tanto os meandros urbanos quanto os detalhes insólitos da vivência cotidiana. Quando seu livro, Culturas híbridas: estratégias para sair e entrar na modernidade, despontou em 1990, a sensação foi que estávamos diante de algo tão pulsante e vivo, uma etnografia criativa e dinâmica que não temia as hibridações da cultura popular/mediática e tampouco as romantizava como traços nacionais ou essências estanques. Pensando fora das compartimentalizações identitárias, as pesquisas variadas de Canclini abrem tantas veredas. Sua obra nos dá estímulo e coragem para compreender as invenções culturais múltiplas da América Latina na sua imensa diversidade, mistura, desigualdade, assombramento, legados conflitivos e apropriações criativas. Mais do que nunca, estamos em encruzilhadas políticas e culturais. Canclini mapeia modernidades diversas num futuro cada vez mais incerto.
Beatriz Jaguaribe
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Llegué a Ciudad de México detrás de las pistas que había encontrado en sus libros. Siendo aún una estudiante de pregrado, leer a García Canclini había transformado mis modos de entender la antropología, y tuve la suerte de ser su estudiante. Me sorprendió, entonces, la forma en que recogía los aspectos más luminosos de nuestras preguntas inexpertas, y su habilidad para conectar nuestras observaciones dispersas con problemas de largo alcance. Inicié mi investigación de postgrado bajo la tutoría de García Canclini, pero en el proceso tuve el privilegio de conocer a Néstor. Me abrió las puertas de su casa, de su biblioteca, de su familia. Pude observar su destreza en el arte de conformar equipos de investigación y convertirlos en espacios desafiantes y gozosos, en los que la producción de conocimiento estuvo siempre atravesada por los afectos y los encuentros. Conocí su oído atento y su lúcida conversación cotidiana, siendo testigo de su entusiasmo contagioso por lo emergente. El acontecer noticioso, las novedades editoriales, las nuevas tecnologías: la curiosidad omnívora de Néstor es una fuente de juventud que se resiste a los años, y que lo lleva a explorar nuevos formatos y a revisitar antiguos dilemas con nuevas preguntas, aún más afiladas. Volví a Chile hace casi diez años, pero el diálogo con Néstor admite la distancia geográfica como una anécdota circunstancial. Desde aquí sigo los pasos de su creatividad expansiva e infatigable, y celebro la fortuna de su amistad imprescindible.
Carla Cobos
A obra de Néstor é conhecida e citada em todo o mundo. Prolífico e sofisticado pensador e escritor, sempre atento aos detalhes e questões de ponta dos nossos tempos, Néstor há muito transcende limites disciplinares rígidos e torna seu trabalho indispensável para quem quer que deseje situar-se no mundo contemporâneo. Além disso, é um líder intelectual generoso e afável, responsável pelo estabelecimento de muitas e profícuas redes em nosso continente e além. Somos muitos os seus admiradores.
Gustavo Lins Ribeiro
Universidade de Brasília
Conheci Néstor há uns 20 anos num seminário na UNAM sobre Estudos Culturais na América Latina. A palestra dele foi sobre como seria exatamente como a tradição crítica latino-americana estava metabolizando aquele “novo” campo de saber. Pois bem, a fala de Néstor foi tão lúcida e reveladora que, desde então, o sigo lendo atenciosamente todos os seus livros e contribuições. Através de todos esses anos, ele tornou-se uma referência fundamental para meu próprio trabalho. Fora seu charme latino que encanta a todos nós….
Heloísa Buarque de Hollanda
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Quando ainda estava no mestrado, estudando a interferência do rádio no Brasil, conheci a obra Consumidores e Cidadãos. Era uma escrita que trazia profundidade e leveza, propiciava inúmeras possibilidades de diálogo. Néstor García Canclini, era esse o autor, passei literalmente a perseguir esse teórico, aproveitando as viagens e oportunidades para comprar suas obras no idioma original. Anos 2000, chegando ao campo dos estudos de políticas culturais reencontro um dos meus teóricos favoritos: Canclini! Revisito obras já lidas, chegou a novas obras. Me reencanto! Esse meu novo campo de estudo me permitiu ampliar meu contato com esse querido mestre. Gentil e assertivo! Pessoalmente tão encantador, ou mais ainda, que em seus textos! Brilhante e arguto nas conversas que tivemos oportunidade de travar. Conhecê-lo é um privilégio.
Lia Calabre
Universidade Federal Fluminense
A epígrafe que inicia o livro Diferentes, desiguales y desconectados é emblemática da forma de proceder da produção de Néstor García Canclini: “Si no conoces la respuesta, discute la pregunta” (Clifford Geertz). O pensamento inquieto modela reflexões primordiais sobre a paradoxal realidade latino-americana, numa abordagem que alia o campo das ideias à realidade concreta. As dinâmicas socioculturais a partir da ótica de Canclini são sempre multidimensionais e caleidoscópicas. Suas obras instigam e inspiram.
Lúcia Maciel
Universidade de São Paulo
Néstor foi um divisor de águas em minha formação, a partir de sua orientação passei a compreender o trabalho intelectual em uma perspectiva mais ampla, complexa e engajada. Ainda hoje, ele continua a ser um guia em minhas reflexões. Só tenho a agradecer por sua generosidade em compartilhar conosco sua sabedoria e ousadia, que inova e abre caminhos.
Maria Amelia Bulhões
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Siempre me ha parecido sospechoso el lenguaje ligeramente trastocado con el que la academia se aleja del mundo y se sube a un banquito para hablarle al lector desde un lugar elevado. Por eso, los libros de Néstor García Canclini me parecen fascinantes y los leo como si fueran novelas deliciosas que, sin embargo, me increpan y me hacen tener ganas de ponerme a escribir –eso, según yo, es lo más elogioso que puede decirse de un libro: que te empuje a pensar. También me hacen querer salir a la calle y mirar de nuevo ese mundo que él observa e interroga con agudeza holmesiana (como cuando pregunta “¿Cómo entender el encuentro de artesanías indígenas con catálogos de arte de vanguardia sobre la mesa del televisor?”). Aunque deriven en teorías que nos han sacudido a todos, los textos de García Canclini nunca apabullan o aleccionan; por el contrario, son generosos como buenos relatos que van dejando pequeños guisantes por el camino; perlas de conocimiento que sirven de guía privilegiada en estos trayectos por los que los demás solemos andar a ciegas. García Canclini es ese tipo de autor que para explicar complejidades puede recurrir a metáforas maravillosas, como cuando habla de la “concepción hojaldrada del mundo de la cultura” o dice que sólo las “ciencias sociales nómadas [son] capaces de circular por las escaleras que comunican” los pisos de la cultura. A sus libros él los ha llamado ciudades, y no sin razón, pues uno puede vivir, y gustoso, en ellos.
María Minera
Quando Canclini me convidou para participar da exposição Extranjerías (2012), organizada para o Museu de Arte Contemporânea (MUAC), na Cidade do México, sob o tema das fronteiras e suas implicações culturais e politicas, foi uma surpresa e uma honra sua escolha da obra mais radical que eu havia feito naqueles anos: Dark Swamp, na qual imagens de crocodilos parecem ser geradas por um grande ovo negro, no contexto de uma série em que tratava de compor uma atualização das pragas históricas na contemporaneidade. Essa interlocução preciosa e arriscada com Canclini se manteve em nossa troca mais recente, quando uma foto da instalação Cascata (2019),um site specific com a visualidade de um desmantelamento ficcional das janelas reais da nova sede do Paço das Artes em SP, serviu de capa ao seu notável Pistas Falsas, uma Ficção Antropológica, da série Observatório (Itaú Cultural/Iluminuras). Fiquei feliz ao constatar que aquele desmanche fotográfico/digital podia ser visto como uma boa analogia visual das experiências vividas pelo personagem de seu livro, o arqueólogo chinês, quando lida com as misturas de um mundo fortemente globalizado, num futuro não muito distante. Salve, Canclini! Continuamos essas conversas? Com muito gosto e admiração.
Regina Silveira
Artista plástica
Conheci pessoalmente o prof. Néstor há dez anos, durante minha estadia de doutorado sanduíche no México. Como aluna da disciplina Teoria Antropológica, pude dialogar intensamente com sua produção acadêmica — ou lítero-acadêmica, pelo transbordamento dos gêneros em forma e conteúdo — e com algumas de suas referências. Nos encontros, diálogos e colaborações que se seguiram, se confirmou a pertinência entre a perspectiva crítica e comprometida de sua obra e uma conduta aguerrida, afável e generosa. Esta unicidade entre teoria e prática cotidiana, mais que mera característica, é uma inspiração para a nossa ainda necessária busca latino-americana por um lugar neste século.
Renata Rocha
Talvez seja um dos poucos brasileiros que o chama de Néstor, e nas bibliografias de meus livros, Garcia-Canclini, com hífen para evitar mal entendidos. Entre nós brasileiros ele ficou conhecido como Canclini, um equívoco frequente que toma em consideração o nome da mãe, em espanhol no final, e não o paterno, que aparece no meio da frase. Não me recordo bem quando o vi pela primeira vez, mas tenho uma forte lembrança de termos nos encontrado em minha casa, quando mudei-me da UFMG para São Paulo. No início de 1987, quando fazia a pesquisa sobre a telenovela, antes de ir à Cuba, estive na Cidade do México; nesta época ele trabalhava na Escuela de Antropologia onde ministrei um curso a seu convite. Ele hospedou-me em sua casa e me persuadiu a visitar a parte espanhola do México, os lugares onde tinha feito sua pesquisa sobre o artesanato popular, cujo livro recebeu o prêmio ensaios da Casa das Américas. Foi Néstor quem me apresentou Jesus Martin-Barbero (uso novamente o hífen) e uma conivência intelectual se acercou de nós. Durante todos esses anos que percorri esta América Latina fomos cúmplices. O que admiro em sua obra? Certamente sua indisciplina em relação às fronteiras disciplinares. De formação em Filosofia, optou pela Antropologia, porém, ao eleger a esfera cultural como espaço de reflexão, seus trabalhos adquiriram uma dimensão transdisciplinar, sem se restringir ao status quo do mundo acadêmico. Talvez o objeto cultura seja apropriado para a transgressão disciplinar, dificilmente pode-se apreendê-lo circunscrito a limites exíguos. A questão cultural, tema clássico do pensamento latino-americano, contém dimensões diversas, econômica, política e social. Néstor também recupera desta tradição a ideia de ensaio, ao lado das pesquisas de cunho empírico que realizou, sempre cultivou a veia ensaística para dar conta de nossa realidade. O que torna a sua escrita convincente e sugestiva. Seria Nestor argentino ou mexicano? Creio que a tensão das origens alimentou sua inquietação e curiosidade intelectual, de uma certa forma o libertou das certezas do senso comum.
Renato Ortiz
Universidade Estadual de Campinas
Néstor García Canclini é um estudioso pioneiro das relações entre sociedade e cultura na América Latina, com ênfase no exame das feições e da contribuição da indústria cultural, em paralelo ao trabalho inventivo sobre as culturas populares na região. Canclini também exerceu um papel de protagonista na montagem e na atuação de grupos reflexivos de especialistas latino-americanos, voltados ao exame de políticas culturais em perspectiva comparada. Por conta de ensaios inovadores, de pesquisas de fôlego e da atitude de resgate das principais tradições intelectuais no campo emergente dos estudos culturais, Canclini conquistou o reconhecimento dos pares pela originalidade de sua obra criativa, mescla interdisciplinar, voz crítica inconfundível e modelo de excelência
Sergio Miceli
Universidade de São Paulo
Primeiro encontro com Néstor Canclini em São Paulo, anos 80. Ele vinha do México depois de sair da irrespirável Argentina. Sempre esteve aqui, ali, em outro lugar, tomando o pulso das Américas e do mundo sem confinar-se no interior de fronteiras tão imaginárias quanto letais -- o que me fez pensar nele, em diálogos comigo mesmo, como o antrópologo-que-anda. Redundância, parece. Mas é que antropólogo de binóculo, a observar o que outros viram ou pensaram, é contradição nos termos. Néstor está sempre aqui ao lado, não apenas compartilhando, em colóquios e seminários, suas ideias pré-ordenadas em textos incisivos mas tranquilos como para ouvir de nós, os nativos, nossa versão dos dramas culturais e políticos locais. Mesmo quando lhe fazia relatos divergentes do que ele pudesse pensar. Ele ouve. E isso me forneceu a segunda imagem de Néstor: um retrato do pensamento vivo.
Teixeira Coelho
Universidade de São Paulo